quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Capítulo 2

Parte 5 - Pedro
Pedro estranhou que a mãe não lhe levasse comida no dia seguinte. Esperou até que a fome apertasse e resolveu voltar para a casa, em busca do almoço.
Estava um lindo dia de sol, mas nuvens negras se avolumavam no céu, como que preconizando chuva.
Ele estranhou de ver gente ao redor da casa. Havia muitas pessoas, conversando baixinho e olhando pela janela e pela porta. Ele só vira movimentação como aquela em dia de festa. Mas não era festa. Não havia alegria no rosto das pessoas. Só uma mistura de medo, espanto e tristeza. Ao vê-lo se aproximando, alguém comentou:
- É o filho dele!
A turba abriu caminho, deixando-o passar. Cochichavam entre si, enquanto ele passava, mas Pedro não conseguia descobrir o que diziam. Parecia mais o murmúrio contínuo da água do riacho, e não um discurso com sentido.
Havia mais gente lá dentro. Todas em silêncio, ou conversando baixinho. Um grupo maior se avolumava em torno de alguém sentado ou deitado no chão. Pedro não conseguia distinguir quem era, mas parecia adivinhar um choro feminino. Sua mãe.
De repente, alguém deu por ele, e abriram caminho. Só então ele pode ver a cena. Sua mãe estava sentada no chão, chorando copiosamente. Deitado no chão, seu pai, com a cabeça caída sobre o colo da esposa.
- Meu filho! Seu pai! Seu pai morreu!
Pedro espantou-se:
- Morto?
Depois correu até sua mãe e abraçou-a, chorando.
- Meu filho, seu pai está morto! – repetia a mulher, inconsolável.
Pedro olhou para o pai. Pegou em sua cabeça e tentou levantá-la.
- Pai, fale comigo! Pai, por favor! Fale comigo! Você não está morto! Diga que não está morto!
O pai não respondia. Estava frio, frio como a morte.
O menino chorava e sacudia o pai:
- Papai, por favor, não nos deixe. Por favor, não morra!
Parecia fora de controle, chorando desesperadamente. A mãe pegou-o pelo ombro:
- Seu pai está morto, meu filho! O boticário o matou. Ele nos vendeu veneno como se fosse remédio. Seu pai tomou o remédio e morreu!
O menino chorava tanto que mal conseguia falar, mas gaguejava:
- Não pode ser! Ele não pode estar morto!
- Foi o boticário! Bem que eu desconfiei. Quem bate àquela hora na casa de uma pessoa não pode estar com boas intenções!
Mãe e filho se abraçaram:
- Eu vou vingar ele, mamãe. Vou matar esse desgraçado!
A mãe só chorava e abanava a cabeça, como se quisesse mandar para longe a dura realidade. Choraram, mãe e filho, abraçados, pelo resto do dia.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Capítulo 2
Parte 4
A Santa Bárbara era onde ficavam canhoneiros, nome dado em homenagem à santa protetora do artilheiro. Não parecia haver nada de errado lá. Era mesmo o leme. Através de uma portinhola, eles vislumbram a parte traseira do navio. O leme jazia na água, totalmente desprendido do navio e preso apenas por uma corda.
- Um de nós terá que se aventurar na água para recuperar o leme. – decidiu Jean-Pierre.
Agostinho pensou em oferecer-se, mas desistiu. Tinha pouca experiência no mar e era mais certo que se afogasse. Melhor deixar para os dois marinheiros, mais experientes.
- Não sei nadar. – confessou Jean-Pierre.
- Eu vou. – decidiu Pedro.
Foram até o tombadilho. Pedro tirou a camisa e pulou na água. Jean-Pierre e Agostinho jogaram-lhe uma corda. Ele a agarrou e deixou que o navio avançasse. Era manobra arriscada, pois poderia ser atropelado pelo casco. Com cuidado, ele se aproximou do leme e pegou-o. Nisso, Agostinho deu um grito.
- Atrás de você!
Pedro olhou por cima dos ombros e viu uma barbatana sobressaindo-se nas pequenas ondas. Um tubarão!
Ele ainda tentou levar consigo o leme, mas era pesado demais, grande demais. Sem soltar a corda, ele nadou com todas as suas forças, até aproximar-se do casco.
- Puxem! Puxem! – gritou.
Agostinho e Jean-Pierre usaram toda a sua força e o retiraram bem a tempo. O tubarão dava seu golpe no exato momento em que Pedro saia da água. Ele ainda tentou voltar e pegar o leme, mas inadvertidamente ele deslocara a corda, soltando-o. O navio foi se afastando, deixando para trás o único instrumento que poderia dar-lhes uma direção. Estavam totalmente à deriva.